segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Entrevista: Xico Sá


Você provavelmente sabe quem é Xico Sá. Já deve ter lido alguma crônica dele na Folha de São Paulo, se deparado com seu blog O Carapuceiro, ou tê-lo visto no "Cartão Verde" ou no "Notícias MTV". Ou a aparição dele no filme "O Cheiro do Ralo". Se em nenhum desses lugares, talvez em algum barzinho da Vila Madalena.

Enfim, o cara é ocupado, mas conseguiu cinco minutos para responder umas perguntinhas para este humilde blog por e-mail. E se você sabe quem é ele, sabia que ele está preparando um livro sobre o ex-craque Sócrates? Confere aí mais detalhes sobre isso e outras coisas.

MPadrão: Você nasceu no Ceará e viveu em Pernambuco. Em seus textos você assume uma "persona" cabra-macho nordestino impregnado das influências cosmopolitas de São Paulo. O quanto esse Xico Sá conhecido do público é igual ou diferente do "real"?

XS: É essa desgraça que se vê mesmo, ajuntamento desses lugares, duzentas mil influências arrumadas ao longo desses caminhos, vezes com mais sustança, vezes mais fraco e metido a moderno. E sempre pulando mais por necessidade do que por boniteza, como faz o sapo no dizer colhido por Guimaraes Rosa entre os sertanejos de Minas.

MPadrão: Você é um dos poucos jornalistas da mídia impressa que acabou ganhando ainda mais fama quando foi parar na TV. Esse seu perfil, citado na pergunta anterior, seria a razão de seu sucesso na frente das câmeras?

XS: O que faço na TV é tudo por consequência do que escrevo no papel ou nos blogs. Vou lá e falo as mesmas coisas, de um jeito mais desarrumado e feio ainda, mas mantendo a pegada do cronista de jornal. Alem do "Cartão Verde", faço uma pequeníssima crônica na MTV, no "Notícias MTV", programa do Cazé. Juro que procuro não ver nada do que faço na televisão, pois me espanto com a feiúra e com o desmantelo, como quem ouve a voz gravada, nas primeiras vezes, e acha horrível. E olha que me divirto na hora de fazer e ganhar meu troco, mas ver, tô fora, Deus me livre.

MPadrão: É verdade que está produzindo um livro sobre Sócrates, seu colega no "Cartão Verde"? Poderia falar mais sobre o assunto?

XS: Junto com o Vladir Lemos, apresentador/mediador do "Cartão" estamos nessa missão. Tem material já de sobra, entre convívio e apuração, mas não será uma biografia séria e oficial. Apenas um livro divertido que consiga mostrar a importância do doutor no futebol e na política, pois tem muita gente no Brasil que aprendeu o sentido de democracia com a Democracia Corinthiana. Sai em meados de 2010.

MPadrão: Noto em suas crônicas uma mistura de poesia com jornalismo gonzo. Quais seriam as suas influências mais fortes nessas duas vertentes?

XS: Tem um pouco dessas duas coisas sim, mas o que se convencionou chamar de gonzo nunca foi pensado, pois tinha esse traço, de forma mais radical que hoje, bem antes de conhecer sequer o termo. Acho que a matrix é o mundo ali dos cronistas líricos, principalmente Antônio Maria, uma coisinha ali crônica de costumes, como Padre Carapuceiro, e, vez por outra, uma maluquice assimilada das leituras do Kurt Vonnegut.

MPadrão: Você lembra qual foi a reportagem mais bizarra que já fez? Quando e como foi?

XS: A mais bizarra foi uma sobre a máfia dos papa-defuntos do Recife, que me fingi de morto e tudo,me botaram dentro de um caixão de uma funerária da Caxangá, essa foi doideira, mas a finalidade era séria: denunciar o esquema funerário de exploração da miséria. Publiquei em "O Rei da Notícia", no Recife dos anos 80, com fotos de Fred Jordão. Tem outra que gosto que é sobre o esquema de prostituição e política e Brasília, a putaria usada como lobby, saiu na "Trip", há uns quatro anos, quando descobriram aquela cafetina famosa, a Marie Córner, se não me engano – essa teve ilustração do Lourenço Mutarelli, que me acompanhou como se fosse o fotógrafo da apuração, o cara disse tudo nos seus desenhos. Outra que vale citar é um cruzeiro que fiz com o Rei Roberto, também para "Trip", ano 2005, creio, com loucuras dentro do navio.

MPadrão: Outra grande marca do seu trabalho é a informalidade típica dos papos de boteco. Qual é a importância dessa instituição etílica na vida contemporânea, na sua opinião?

XS: Aí está minha grande fonte. É nessa instituição nacional que colho tudo para a escrita hoje em dia. Do boteco mais pé-sujo ao mais arrumadinho de classe média. Com uma ida vez por outra aos puteiros, lógico, que não são os mesmos, mas continuam grandes lares de histórias prontas para um repórter ou cronista.

MPadrão: Para você, o que o caso Geisy atesta - ou desmente - na sociedade brasileira na questão do feminismo?

XS: Que em muitos setores, e nisso São Paulo é bem mais conservador (pelo menos em matéria de vestimenta), ainda não avançamos o que imaginávamos.

MPadrão: O futebol brasileiro foi mais agitado que a média neste ano. Além do retorno de Ronaldo e Adriano, tivemos novas emoções nos pontos corridos e algum progresso na Seleção. Quais são as suas previsões futebolísticas para 2010, incluindo aí Brasileirão e a Copa?

XS: Anda tudo dando tão certo para a seleção, que eu, supersticioso como muitos, temo uma derrocada na hora H, quando tiver que provar mesmo que é a tal. Tem um time africano muito bom: Costa do Marfim. Gana também joga uma bola redondinha. Seria lindo que vencesse, no continente deles, uma das duas. Mas se o Icasa de Juazeiro se mantiver na série B (subiu agora), o Sport voltar para a A e o Santos for campeão brasileiro, tá de bom tamanho.

Nenhum comentário: